Dia 21 foi meu aniversário, e, diferentemente de todos os anos, eu não me pronunciei publicamente perante toda a imprensa.
Dia 21 foi meu aniversário.
Mais do mesmo.
Passei meu aniversário sozinha, me questionando sem saber se esse era o melhor ou o pior aniversário de todos os tempos.
Às 14 horas eu fui dormir. Não precisava, não aguentava e não queria mais ficar acordada esperando milagres acontecerem, esperando a vida passar umas verdades na minha cara, dizer que eu sou uma cética filha da puta, que o mundo é lindo e tem muito a oferecer, e que, se a gente acreditar com todo o nosso coração, milagres acontecem.
Então eu fui dormir.
Só chorei uma vezinha. Com meu pai. Só.
Quando acordei, já era quase dia 22 - o que é engraçado quando eu penso que nasci quase no dia 22. Mas eu parei esse raciocínio, senão ficaria mais triste, porque teria mais tempo pra esperar pelas coisas que não vem.
Então acabou dia 21. Agora só daqui a 1 ano.
Todas as imagens de bolo flamejante, amigos por todos os lados, música e a sensação de "vale a pena envelhecer desse jeito", vão ficar pra depois.
Aí dia 24 minha mãe resolve que minha vida tá boa demais, e aí decide, sei lá, colocar adrenalina - eu aconselharia injetar uma seringa cheia de ar na minha jugular, mas ela não me perguntou nada.
Tudo, absolutamente tudo que eu sinto foi menosprezado.
O que só me leva a uma conclusão: eu tenho que aprender a calar a porra da boca.
Ou sair de casa.
O mais cruel é que eu havia acordado felizinha, sabe? Com um desejo sobre-humano de comer cachorro-quente. Fiquei tão contente quando vi que minha mãe tava fazendo. Só achei estranho, porque ela tava fazendo muito.
Mas a vontade passou tão rápido quanto a consideração que sentem por mim.
Eu quis tanto um bolo no meu aniversário. Mas não tinha porquê.
Dia 24 minha mãe fez um. Disse que era pra vender. Que seja.
Não era.
Tampouco era meu.
Não sei que gosto tinha, nem me interessa.
Meu aniversário foi dia 21, num sábado maravilhoso, ensolarado e com um monte de gente feliz lá fora.
Eu não sei como uma terça-feira monótona poderia ter alguma coisa a ver com tudo isso.
Mas pela primeira vez na minha vida eu acho que fiquei bêbada.
Eu finalmente terminei a garrafa de bacardi que tava na geladeira.
Foi pra isso que serviu aquela terça.
Pra encher de álcool o meu estômago cheio de antibiótico.
E, depois de tudo, eu só tenho uma coisa a dizer:
"Esta é a minha festa e choro se eu quiser
Choro se eu quiser
Choro se eu quiser
Você também choraria, se isso acontecesse com você"
It's my party - Lesley Gore